terça-feira, 2 de junho de 2009

Gestalt do Objeto

Gestalt do Objeto Segundo a Gestalt, a arte se funde no princípio da pregnância da forma, ou seja, na formação de imagens, nos fatores de equilíbrio, na clareza e harmonia visual constituem para o ser humano uma necessidade e por isso, são considerados indispensáveis seja numa obra de arte, num produto industrial, numa peça gráfica, num edifício, numa escultura ou em qualquer outro tipo de imagem. Este sistema de leitura visual tem como princípios básicos ou leis: unidades: são os elementos que configuram a forma segregação: é o ato de separar, perceber ou identificar as unidades unificação: é a coesão visual da forma em função do maior equilíbrio e harmonia da configuração formal fechamento: apresenta características espaciais que dão a sensação de fechamento visual dos elementos constituintes da forma continuidade: padrão visual originado por configurações que apresentam seqüências ou fluidez de formas proximidade: elementos ópticos próximos uns dos outros tendem a ser vistos juntos, constituem um todo ou unidades dentro do todo semelhança: a igualdade de forma ou cor, tendem a construir unidades, agrupamentos de partes semelhantes pregnância da forma: organização visual da forma do objeto em termos de facilidade de compreensão e rapidez de leitura ou interpretação, maior será o seu grau de pregnância. Leitura Visual da Forma do Objeto. Análise da Estrutura Perceptiva do Objeto O banjo segrega-se em três unidades principais: corpo, constituído pelas subunidades circulares, apoio e fixador de cordas braço, constituído pelas subunidades de trastes e marcadores musicais (pontinhos) cabeça, constituída pelas subunidades de aberturas laterais e cravelhas de afinação

Enganos e Desenganos acerca do Projeto Social da Gestalt-terapia

Há vários anos, em um Congresso Internacional, ouvi de respeitável colega estrangeiro a decretação da falência do projeto social da Gestalt-terapia. Lembro-me bem do meu desconforto na ocasião, quando as questões da vida em sociedade, da organização coletiva, da existência ou ausência de um projeto para a clínica comprometido com a viabilização/transformação das relações sociais já me ocupavam

Bem, dizem os ditos populares: “Quem cala, consente” e “Os incomodados que se mudem”. Por uma (im)provável mistura de ‘oralidade’ e vocação, jamais consegui calar sobre essa questão. Não pude me conformar – pois isso implicaria em agregar mais uma falência a um já longo rol de fracassos de tantos projetos sociais. Afinal, a paz e o amor não puderam neutralizar os efeitos dos mísseis; o comunismo não sucedeu o capitalismo; alguns irmãos do Henfil até voltaram, mas (ainda) não se pode dizer que tenham seu sonho realizado. Pior que não calar, por teimosa ou seduzível que seja, não me mudei – como deveriam fazer os incomodados – mas preferi ficar e continuar a elaboração dessa recusa em aceitar tão prematuramente como fechada e conclusa uma questão (uma Gestalt) que absolutamente não o é. Felizmente tenho encontrado, aqui e ali, pelas curvas desse sinuoso caminho, algo imprescindível para que o conteúdo do que falo adquira uma forma coerente que o sustente: companhia. Com base em experiências de interlocução com pessoas e grupos diversos (colegas da clínica privada e pública de orientação gestáltica, psicanalítica, corporal, analítico-institucional; clientes de consultório e pacientes institucionalizados e suas famílias; associações e comunidades; etc.), penso que tenha algumas considerações a fazer, de modo a (re)acender e/ou colocar mais lenha nessa ‘fogueira’. No presente texto vou procurar desenvolver algumas dessas considerações, e o farei em três tempos, como em uma espécie de jogo em que se combinam a briga de forças e o lúdico.

PRIMEIRO TEMPO: LUTO E MELANCOLIA

Chamo a esse tempo inicial do jogo ‘Luto e melancolia’ em referência à idéia (freudiana, em princípio) de perda do objeto amado e conseqüente introjeção do mesmo. Nesse primeiro tempo é necessário e faz sentido concordar com a falência do projeto social da Gestalt-terapia, porém de um modo bem diferente do que comumente se faz. Esse projeto é falido, sim, não apenas porque a contracultura não vingou, porque era desde sempre ou acabou sendo capturada pela ideologia dominante; também não porque a teoria da Gestalt-terapia não era ‘suficientemente consistente’ para que a abordagem alcançasse a extensão que prometia, promovendo uma reconfiguração dos campos clínico e social.

A falência (em primeiro tempo) do projeto social da Gestalt-terapia representa, muito mais amplamente, a falência – ainda não completamente assumida – do projeto da psicoterapia como técnica, apoiado no projeto inicial da psicologia como ciência. Posso explicar isto, ainda que simplificadamente, por três eixos de discussão: o epistemológico, o sócio-antropológico e o psicológico propriamente dito.

· O primeiro eixo, epistemológico, é o que permite compreender como o projeto da psicologia como ciência é sustentado por um conceito de ‘objetividade estática’, do que deriva a concepção de ‘sujeito metafísico’. Há uma pressuposta separação entre tais sujeito e objeto, que se transpõe para outras cisões, a saber: conhecimento X aplicação, teoria X técnica e self X outro. Como resultado, nos vários projetos psicológicos ‘científicos’, sujeito e objeto passam por uma longa e nociva separação, apenas muito recentemente começando um processo de reconciliação, pela via do que se tem chamado a ‘mudança de paradigma’.

· O segundo eixo, sócio-antropológico, é o que permite observar os efeitos da longa e elaborada produção do moderno individualismo. Quando o indivíduo se torna o valor moral supremo, a única concepção possível de sociedade (a única que resta) é a de ‘associação’ de elementos individuais. Essa característica das sociedades atuais tem uma importância sutil – principalmente para quem compreende a diferença entre as perspectivas associacionista (na qual se parte dos elementos) e holista (que privilegia o todo em relação às partes).

· O eixo psicológico revela como a ‘falência’ em questão se refere a que:

1) A objetividade se superpôs à objetividade, determinando a produção de concepções estáticas sobre presumidas ‘estruturas’ psíquicas – o self, o ego, o id, a personalidade, a consciência, etc.; e isso atravessando diversas escolas e linhas, sempre com base na ruptura fundamental entre self e outro.

2) O próprio desenvolvimento da psicologia e suas aplicações contribuiu para uma enorme ênfase no ‘intra-psíquico’, que foi se tornando ‘inchado’, enquanto o ‘extra-psíquico’ foi se diluindo. Assim, a atual crise das identidades é também crise desse tipo de individualidade, é crise de pertencimento, carência daquilo a que se referir e em que investir como sujeito. Ou seja, o narcisismo e a ‘auto-absorção’ andam lado a lado com a impotência, o esvaziamento da dimensão da ação em âmbito comunitário, social, político, econômico. Ou, como disse Castel (1987, p.157), virando a metáfora marxista da religião como ‘o sol de um mundo sem sol’: a psicologia teria se tornado ‘o social de um mundo sem social’ – um mundo de objetos, de coisas, um mundo do qual o homem teria se retirado e sobre o qual pensara que poderia impor sua vontade.

Em resumo, a falência do projeto clínico e social de que falo corresponde à falência do projeto de psicologia científica que ‘encapsula’ a subjetividade e do projeto mecânico-tecnocrático de psicoterapia que visa a manipulação do indivíduo pelo uso de modelos normativos. Esses projetos confundem alhos com bugalhos, ou seja, pressupõem como dado o que é abstração formal ou desenvolvimento metodológico, separando o que não pode ser separado (sujeito e objeto, homem e mundo, indivíduo e coletividade) e censurando o que não pode ser censurado (a intencionalidade da consciência humana em sua visada de mundo). Não custa lembrar que em Gestalt-terapia os projetos em questão também se manifestam, pela reificação e uso mecânico de conceitos como ‘self autêntico’, ‘contato íntimo espontâneo no aqui-agora’, etc. Mas a verdadeira transformação de relações, em vários níveis, necessita uma atitude distinta. De modo que esse primeiro tempo implica em reconhecimento do fracasso, da perda ou do fim de um projeto; da constatação de que “apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos / ainda somos os mesmos / e vivemos como nossos pais” (Belchior, “Como nossos pais”) – sejam eles Newton, Descartes, Freud, Perls...

Felizmente, graças a um desses pais, já passamos dos estágios iniciais de desenvolvimento e a introjeção pura foi apenas o começo da história e do jogo. Podemos então passar ao segundo tempo.

SEGUNDO TEMPO: NEUROSE DE ANGÚSTIA OU TRANSTORNOS ANSIOSOS MÚLTIPLOS

Nesse segundo tempo é possível avaliar, na Gestalt-terapia, o que é prejudicado pela imersão inevitável no contexto científico-profissional e sócio-cultural e, também , o que é capaz de sobreviver e reconfigurar essa falência em primeiro tempo.

Sabemos que uma das fontes do radicalismo da Gestalt-terapia vinha da ênfase na autonomia criativa da atividade saudável e na propriedade estética (demostrada pela Psicologia da Gestalt) pela qual as pessoas tendem a viver e organizar a experiência em todos, caracterizados por forma, estrutura e unidade. Esse radicalismo se traduzia em uma posição anarquista oposta às ideologias liberais que podem promover a manipulação dos indivíduos por especialistas - cidadãos por políticos, pacientes por terapeutas, etc. (Miller, 1980).

Será possível fazer sobreviver essa atitude radical em meio à atual ‘crise de contexto’, ou seja, em um mundo tornado não-social? Como fazê-lo, se a individualidade moderna é tanto prisão quanto se propõe liberdade? Como, ainda, se a noção tão preciosa de autonomia se confunde com uma ingênua (ou nem tanto) idéia de independência das relações em diversos níveis (o par, a família, a amizade, o tempo, o espaço, o coletivo...)? Como, enfim, se perdemos a confiança em uma relação saudável ou propriamente eco-lógica como ambiente?

A angústia pela qual nomeio esse segundo tempo não pode ser entendida em termos estritamente freudianos. Ela é melhor descrita no poema “Canção” de Cecília Meireles:

“Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
(.......................................................)
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.”

Para mantermos fortes e produtivas nossas mãos e irrigáveis nossos olhos, é preciso saber que a grande diferença em termos de projeto clínico e social está, não em qualquer técnica, mas na possibilidade de desenvolvimento e instrumentalização de uma teoria da subjetividade não-encapsulada.

Em Gestalt-terapia esta tentativa está presente na profunda crítica desenvolvida por Perls, Hefferline & Goodman (1977/1951) ao conceito de self passivo-interno-individualizado-biológico. Ali se encontra a caracterização do self como função fronteiriça, sistema de contatos, processo ativo no conflito de superfície, devir; e não como estrutura interna, núcleo rígido, individualizado ou separado do ambiente. Mas é preciso ir além dessa crítica, ou da sua introjeção passiva, para fazer justiça a algo encontrado já nos primórdios do desenvolvimento da Gestalt-terapia, em “Ego, Hunger & Aggression” (1969/1942): o valor atribuído por Perls à mastigação, à agressividade, fundamentando nos primeiros estágios do desenvolvimento a possibilidade tão profundamente humana de criticar e elaborar a experiência.

A diferença é, portanto, começar com o sujeito experienciando já dentro do mundo, ao mesmo tempo e paradoxalmente sem haver realmente dentro e fora, já que não há mundo objetivo ou indivíduo objetivo senão por abstração. Essa era a posição radical que Husserl (s/d) propunha com sua fenomenologia, contrária à tendência de abstrair organismo, abstrair ambiente e depois tentar recombinar os dois secundariamente – tendência da qual derivam os efeitos mais esdrúxulos.

É preciso poder mastigar e destruir, então, para combater a falsa idéia de que a solução dos males psico-sociais está exclusivamente na intimidade entre seres individualizados – ou de que a intensidade das emoções é tudo que importa. É preciso mastigar e destruir para saber que as emoções nos informam sobre o que existe ou está faltando em nós e no mundo, de modo que importa bem mais a qualidade do direcionamento das emoções em relação ao ambiente (Miller, op.cit.) e os modos de sermos afetados por ele. Novamente como dito em Perls, Hefferline & Goodman (op.cit.): “se toda a energia provem de dentro, perde-se a possibilidade de uma solução criativa das contradições de superfície”, ou seja, do conflito desejo X impossibilidade, necessidade X não-realização... Isso é diferente, pois ao contrário da idéia tradicional, self e conflito (sujeito e contexto) não se inviabilizam mutuamente. É como dizem João Bosco e Aldir Blanc em “Transversal do tempo”:

“As coisas que eu sei de mim são pivetes da cidade; pedem, insistem e eu me sinto pouco à vontade, fechado dentro de um táxi numa transversal do tempo...”

Falando em tempo, é hora de passarmos ao terceiro.

TERCEIRO TEMPO: UM MUNDO, UMA LÍNGUA? COMO ASSIM, CARAS-PÁLIDAS?

O terceiro tempo é a hora dos pênaltis, do inusitado, hora de jogar com a paradoxalidade da clínica psicoterapêutica, caracterizada pela ética que propõe um compromisso entre os campos individual e social da experiência, mesmo quando trabalhamos com indivíduos empiricamente dados.

Lembrando os dois tempos já referidos (depressivo e ansioso), vê-se que representam momentos em geral presentes em todo conflito entre o passado e o novo, entre o já (re)conhecido e o desconhecido, entre o self-até-agora e o self-a-partir-de-agora. Esses dois tempos também representam dois grupos de sintomas (depressivos e ansiosos) que referem muito do sofrimento típico desse início de século nos diversos conflitos entre homem e mundo (entre parceiros conjugais, pais e filhos, povo e governo, homem e natureza, trabalhador e (des)emprego, cidadão dentro do carro e pivete no sinal, etc.). Estados depressivos e ansiosos falam da decepção, desapontamento, desilusão e do seu contraponto: a excitação, o desejo e a mobilização em relação ao mundo que não é como queremos, mas do qual não podemos abdicar.

Por isso penso que os diversos estados depressivos e ansiosos podem, de certo modo, falar por outros quadros ‘clínicos’ significativos, seja como sintoma manifesto ou conteúdo latente, por exemplo: no caso de alguém tomado de medo que sabe que deve guardar bem seu próprio segredo; de alguém inundado de melancolia por jamais ter colocado um novo sonho num navio; de alguém revoltado, tipo bem brasileiro, que dá pernada a três por quatro, carcará, mais coragem do que homem; ou de alguém que, para se salvar, precisou perder realmente o mundo. Se ficar melhor em linguagem mais técnica, então, respectivamente: na paranóia, na depressão grave, no ‘transtorno de personalidade agressiva’ e na esquizofrenia.

Estados depressivos e ansiosos são, também, a expressão mais atual de como o conflito, a desorganização, a contradição, a negatividade, a dúvida, a tristeza, o medo, tendem a ser predominantemente tratados: como afecções que devem ser medicalizadas - o clássico ‘o médico e o monstro’ aparece em versão mais moderna.

Assim, o projeto ‘científico’ de previsão e controle avança, de modo que o capítulo para transtornos mentais do CID-10 da Organização Mundial de Saúde tem 100 categorias para as equivalentes 30 da versão anterior, a CID-9. Os estados depressivos e ansiosos são, a exemplo dos demais, minuciosamente descritos, de modo a tornar possível o diagnóstico classificatório de praticamente qualquer vivência do sujeito, confirmando a direção que o slogan de um Congresso Internacional de Psiquiatria do qual participei (Espanha, 1996), apontava: “One World, one language” (“Um mundo, uma língua”).

Sem pretender absolutamente negar o mérito da boa e séria pesquisa clínica, penso que é preciso ver com cuidado a busca desse nível super sofisticado de padronização de ‘patologias’ que, mesmo quando reconhecidamente geradas por fatores culturais e sociais, tendem a ser tratadas exclusivamente como problemas individuais. A ansiedade e/ou a depressão contemporâneas são, no mínimo, tanto sintomas culturais e sociais quanto ‘desequilíbrios’ ou doenças pessoais e ‘privadas’. E enquanto sintomas dessa qualidade, são particularmente sensíveis à manipulação.

É certo que nossos (im)pacientes ansiosos, inquietos, perturbados, agitados, ou, ao contrário, aqueles tão profundamente tristes ou apáticos, nos deixam inquietos, perturbados, ansiosos, às vezes bastante tristes. Então é preciso saber e poder tolerar bastante ansiedade para fazer valer esses estados que são resposta (atenção, não ‘conseqüência’, mas resposta) ao desafio da vida humana, resposta ao que possa haver de ruim, dolorido, desiludido ou morto nas pessoas e no mundo – e também sinal do que ainda (quem sabe?) se sonha realizar para si e para o mundo. Ou não é verdade que nós perdemos e sofremos a cada vez que um sonho ou projeto, seja pessoal, conjugal, grupal, institucional, social, vai à falência? Sofremos à medida em que precisamos nos diferenciar daquilo com que nos identificávamos e porque, para não falir junto, queremos de novo nos comprometer com um novo sonho ou projeto. E a identidade (individual, grupal, etc.) só assim vai se constituindo, continuamente em processo de auto-exo-referência, implicada com as relações de todo tipo, com a ação social e a vida cotidiana, portanto como paradoxo homogeneidade-heterogeneidade.

Não sei se parafraseando ou subvertendo o poeta/músico (Belchior, op.cit.), posso dizer, em relação, simultaneamente, à teoria da subjetividade e ao projeto para a clínica e a sociedade em Gestalt-terapia, que é pertinente termos tristeza e medo, se percebemos que não fizemos nada do que dissemos - pois afinal, já não somos os mesmos nem que nós mesmos.

A possibilidade de preservação, ou ainda melhor, de (re)criação de um projeto de transformação social na clínica psicoterapêutica está, portanto, montada sobre o tipo de resposta que possamos dar a esses dois tipos de quadros, assim como a outros:

- Se essa resposta tende à exclusão ou erradicação dos mesmos é alienante, leva à falência do sentido próprio de subjetividade e de humanidade, porque enquanto intenciona eliminar a diferença, o conflito, a revolta, a recusa, a desobediência, a agressividade, vai levando embora junto o interesse, a curiosidade, a atividade, a positividade. Apaziguar precocemente ‘lutas’ não concluídas (seja entre cônjuges, entre pais e filhos, entre neuróticos e psicóticos, entre profissionais de saúde mental e gerentes de políticas, entre cidadãos e mercado, etc.) em nome da preservação de um suposto ‘self autêntico e equilibrado’ é um projeto conservador, uma vez que só pode haver crescimento no desenvolvimento ativo do conflito.

- Por outro lado, se a resposta da clínica tende a interpretações reducionistas, é igualmente alienante. Então toda psicologia do self individualizado, interiorizado, fixado, cristalizado, é neurótica; assim como toda psicoterapia exclusivamente individualista ou ‘familialista’ se torna também conservadora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O ‘PLACAR’ DO JOGO

É preciso sempre lembrar que a teoria é nossa metáfora instrumental para um projeto de ação-intervenção. A teoria da Gestalt-terapia é especialmente atrativa por ser uma metáfora relacional da subjetividade enraizada nas relações sociais, potencialmente mobilizadora do desejo em sua natureza ativa e coletiva e, nesse sentido, também potencialmente modificadora da realidade. A clínica em Gestalt-terapia é sempre social, porque lida com o ‘entre’, com o dar e receber, com a troca, quer se queira ou não. O que não qualifica essa abordagem como ‘boa’ ou ‘má’ – isso vai depender do tipo de troca facilitada ou impedida nas suas práticas concretas e reais.

O projeto para a clínica e o social que para mim faz sentido nesse contexto implica muito mais em abertura do que em fechamento; implica em capacidade de fazer da clínica (particular ou institucional, privada ou pública, o lugar onde se privilegia e se dá suporte ao conflito, à incerteza, à alteridade, ao desconhecido, à falta de controle do que nunca terá controle. O campo da saúde mental é, assim compreendido, o lugar de validação da multiplicidade de línguas/linguagens, e não o da sua ‘unidade’.

O projeto social da Gestalt-terapia é seu projeto clínico, cuja vocação precisa, porém, para se consumar, de uma ótica multidimensional, processual, polissêmica, capaz de reconhecer e gerar heterogeneidade onde só se pretendia (ou admitia) homogeneidade, capaz de fazer valer a vontade onde só havia o ‘destino’, capaz de fazer emergir (con)textos novos e imprevistos onde só havia a figura do mesmo – ou do si-mesmo.

Estejamos nós, terapeutas, com um paciente classe (ainda)média no consultório particular ou com um grupo de ‘loucos’ marginalizados numa das instituições (semi)públicas de nosso país, saibamos que

“O que transforma o velho no novo bendito fruto do povo será. E a única forma que pode ser norma é nenhuma regra ter. É nunca fazer nada que o mestre mandar. Sempre desobedecer Nunca reverenciar.”
(Belchior, “Como o diabo gosta”)

Não é um projeto tão tranqüilo, nem sempre suave, esse que proponho. Mas, do modo como vejo, se o projeto de intervenção e transformação social da Gestalt-terapia vai à falência, vai também pelo mesmo caminho todo seu projeto clínico.

Claudia Baptista Távora

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Artigo: "Gestalt-terapia, Infância e Hipermodernidade: - diante da necessidade de reconhecimento intersubjetivo.”

Graça Gouvêa

Resumo
Este artigo refere-se a trabalho com o mesmo título apresentado pela autora no XI Encontro - VIII Congresso Nacional de Gestalt-terapia (Rio de Janeiro, Setembro, 2007). O trabalho constituiu-se num fórum apresentado em conjunto com a psicóloga Melanie Sampaio, que apresentou um relato clínico. A parte aqui desenvolvida corresponde à respectiva fundamentação teórica desenvolvida pela autora para a discussão.

Palavras-chave
Hipermodernidade – infância – educação hipermoderna – família hipermoderna.

O Contexto Hipermoderno
Hipermodernidade é a denominação dada por Gilles Lipovetsky (2004) ao contexto da sociedade ocidental contemporânea. Com esta expressão, o autor tem como proposta demonstrar que está em curso nos últimos anos, não uma ruptura e, sim, uma intensificação das características da Modernidade e um acirramento de paradoxos.

Lipovetsky caracteriza a Hipermodernidade observando que está em curso uma nova etapa do capitalismo, ainda fundamentada pela lógica do consumo, agora hiperconsumo, acentuando-se a noção de descartabilidade. Fase que também se configura pela invasão da mídia em todos os cenários, o foco no desempenho pessoal, o narcisismo exacerbado, e a intolerância às pequenas diferenças. Assim, a infância que observamos hoje se desenvolvendo no contexto da família hipermoderna, tem características muito particulares.

Nós sabemos que a educação e a família, desde suas origens são “locus” da tradição. E por mais que se tenham modificado, ao longo da civilização, tanto as práticas e os métodos educativos, como as estruturas e formas diversas de famílias, ambas são experiências que constituem nosso próprio processo de nos tornarmos humanos. A família pode ser considerada uma “instituição humana duplamente universal”, uma vez que “associa um fato de cultura a um fato da natureza”, sem o quê não haveria sociedades humanas. (ROUDINESCO, 2003, p. 16).

Sabe-se que a Modernidade trouxe consigo uma atitude de ruptura com a tradição. Uma atitude de busca pelo que é novo e uma idéia de que, o que é antigo, já não serve. E este processo se intensificou na Pós-modernidade, mas hoje temos a coexistência de valores polares e em diferentes graus de integração, que vão, por exemplo, desde as relações de casamento aberto, até o retorno à idéia de que a mulher deve permanecer virgem até o casamento ou outras práticas tradicionais.

Observando-se os fins do século XX e este início de século XXI alguns sinais indicam que as mudanças em curso podem ser ainda mais radicais nas práticas tradicionais de educação, pois estamos não só retirando toda tradição da educação e transformando-a numa mistura de estilos paradoxais, mas também estamos criando cada vez mais a impossibilidade de se pensar o sentido do vivido.

Por exemplo, pode-se observar a coexistência de práticas tradicionais, inclusive com o uso freqüente do castigo físico paralelamente às práticas diversas, com fundamentos baseados em uma cultura de consumo e narcisismo. Como por exemplo, premiar os filhos com todos os brinquedos possíveis ou fazer uma festa “dos sonhos” (diga-se “muito cara”) para um bebê de um ano. Tanto na clínica, quanto na escola, podemos observar diversos paradoxos presentes hoje na relação entre pais e filhos. E especialmente um grande contingente de pais que não conseguem se responsabilizar de forma efetiva pela educação de filhos e, quando o fazem, sentem-se perplexos e desorientados, sem saber se o que fizeram resultará em uma “boa educação”. Recentemente, em um artigo sobre a estréia do documentário brasileiro “Pr’o Dia Nascer Feliz” do cineasta João Jardim, puderam ser observadas algumas falas paradigmáticas da geração de jovens que hoje estão na faixa entre quinze e dezoito anos, e que foram registradas no filme.

Como Douglas, aluno de uma escola pública em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, que acha legal segurar uma arma no baile funk, porque assim todo mundo olha para ele. Ou o caso de uma menina, em que tal necessidade atinge níveis extremos, pois em seu relato refere que matou uma colega a facadas no corredor da escola, para que todos vissem.

Mas, ser visto demais também pode “pegar mal”. Rita de 16 anos parou de estudar depois de ser perseguida pelas colegas, porque era loura e mais bonita que as demais. Por outro lado, neste mesmo documentário aparece Thaís, de 15 anos, estudante de um colégio particular em São Paulo, cujas notas são ruins, mas que está muito preocupada em entender o que existe depois da morte. E outra menina que estuda demais, e que acha que por isto os garotos não olham para ela. Estes sinais são testemunhos de quê? Os pais não sabem mais educar? A escola está comprometida com um pacto burocrático medíocre? Os alunos são violentos e desinteressados? Ou tudo isto se refere a algo mais? Estamos diante de uma crise de sentido da nossa própria civilização?

Aqueles pais mais interessados estão em busca de um “saber como” educar, e produzem uma demanda que sustenta hoje uma série de publicações voltada para a educação na família e a orientação de pais, com um volume recorde de publicações. O grande número de publicações de livros de orientação de pais que tem saído nos últimos anos bate recordes de vendas de verdadeiros best-sellers. Como por exemplo, o livro “Quem ama educa” do médico Içami Tiba, que se encontra hoje em 160ª edição, com mais de 560.000 exemplares vendidos.

O que pode se constatar numa pesquisa preliminar é que a grande maioria destes livros serve a um projeto pedagógico contemporâneo, onde a eficiência na educação de crianças se mede em filhos bem sucedidos, criados sob a égide do narcisismo, capazes de tomar as relações afetivas sob a ótica de uma razão administrada na busca da “felicidade”.

Para ilustrar selecionei aqui um trecho de Içami Tiba, que em seu livro “Adolescentes – Quem Ama, Educa”, sugere a administração empresarial aplicada em casa a fim de se constituírem “famílias de alta performance”:

“As famílias hoje têm que ser de alta performance. Uma equipe em que todos os integrantes têm seus momentos de liderança pelas merecidas e reconhecidas competências”.

“Por mais progressiva que seja a família, se um dos integrantes for retrógrado cai a performance familiar. Porque nenhuma família que tenha um integrante químico-dependente, um presidiário, um transgressor social pode estar usufruindo da felicidade familiar, muito menos da comunitária”.

Adolescentes – Quem ama educa! Içami Tiba, p. 277-278.

Neste modelo, como fica a relação de reconhecimento intersubjetivo, ou seja, o contato e a dialogicidade, entre pais e filhos? Segundo o filósofo contemporâneo Axel Honneth, a intersubjetidade se caracterizaria como uma experiência de reconhecimento intersubjetivo, baseada nas experiências de amor, direito e solidariedade.

Mas como isto pode se dar, num contexto que se caracteriza por ser líquido e flexível, de tal modo que o indivíduo é esvaziado constantemente de suas referências e, para evitar a percepção deste esvaziamento (ou mesmo como parte deste fenômeno), faz uso do consumo para seu preenchimento?

Quais as possíveis implicações disto nas relações familiares e nas práticas de educação? Se considerarmos, como faz Axel Honneth, que “a formação prática da identidade humana pressupõe a experiência do reconhecimento intersubjetivo” (Honneth A., 2003, p. 155) e que esta experiência se faz sentir de forma recíproca através das relações de amor, direito e solidariedade, pode se compreender a exacerbação atual da busca por reconhecimento intersubjetivo como efeito de subjetivação e como um sintoma da educação hipermoderna.

No contexto atual, as novas formas de reconhecimento intersubjetivo se referem ao ver e ser visto, calcadas no hipernarcisismo, de tal modo que inviabilizam a experiência de reciprocidade presente nas formas de reconhecimento intersubjetivo a que Honneth refere.

Este cenário traz a necessidade de práticas terapêuticas e pedagógicas que viabilizem tal reconhecimento intersubjetivo. E esta possibilidade está presente nas noções de relação Eu-Tu e Contato na Gestalt-terapia.

Nas noções de relação Eu-Tu, Buber já se preocupa com isto, quando se refere à dualidade entre o “ser” e o “parecer”. Buber expressa sua idéia de que a comunicação é algo maior do que aquilo que os sentidos podem captar, desta forma “a linguagem pode renunciar a toda mediação de sentidos e, mesmo assim, ainda é linguagem” (BUBER, 1982, p. 35). E “(...) onde a ausência de reserva reinou entre os homens, embora sem palavras, aconteceu a palavra dialógica de uma forma sacramental” (id, p.35). Deste modo, o que determina o encontro é a ausência de reservas, estar aí, verdadeiramente. Buber destaca fatores que impedem o crescimento do inter-humano: - a aparência que invade, a insuficiência da percepção e a possibilidade de que um dos parceiros queira impor-se ao outro.

Baseados nestes pressupostos, a Gestalt-terapia coloca em cena a relação Eu-Tu como uma experiência do inter-humano e como uma possibilidade de entrar em contato consigo mesmo, através da relação de alteridade, se aproximando assim da noção de reconhecimento intersubjetivo citado por Axel Honneth.

Na Gestalt-terapia o Contato (PERLS, HEFFERLINE & GOODMAN, 1997; PERLS, F., 2002) é um evento de auto-regulação organísmica e é através dele que é possível ao ser humano crescer e se desenvolver (física, mental e emocionalmente). Mas a cultura hipermoderna tem se caracterizado como um forte obstáculo ao contato e especialmente à possibilidade de reconhecimento intersubjetivo e à experiência do inter-humano.

A família deveria ser o lugar onde esta experiência e este reconhecimento fosse privilegiado. Mas em nossa prática clínica observamos um número crescente de pessoas com transtornos de personalidade, que chegam aos nossos consultórios, em idade cada vez mais precoce. Nossa observação vem apontando para uma impossibilidade de reconhecimento intersubjetivo, que se estabelece desde as primeiras relações entre pais e filhos, e que nos faz temer por uma sociedade em que as pessoas constituam comportamentos cada vez mais extremos a fim de obterem tal reconhecimento.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Entrevista com o Profissional

Lúcia Oliveira possui 29 anos, é uma profissional da Gestalt, trabalha na área há três anos, se formou em 2005, mas só começou a aplicar a Gestalt em hospitais no ano de 2006. Diz que escolheu essa teoria, pois concorda que seja uma linha mais dinâmica, que dá valor ao passado, mas o que mais importa é o aqui e agora, enfatizando as referências do presente do paciente.
Afirma que não só a Gestalt, mas outras teorias abordam os aspectos do desenvolvimento humano. A Gestalt reafirma tudo o que foi estudado, tentando integrar todas as teorias na prática, não tendo fase estipulada para a aplicação de sua teoria, ela trabalha com todas as idades, mais a profissional tem preferências por adultos e idosos.
Na sua prática em consultas aplica vários métodos, como a cadeira vazia, desenhos, recortes, colagens, técnicas psicodramáticas e técnicas de aplicações, trabalhando também com a argila. Os objetivos da Gestalt-Terapia é fazer com que as pessoas se tornem autônomas e através de seus métodos tentarem reestruturar a percepção e a consciência do indivíduo. Se diferenciando das outras teorias, pois trabalha com o corpo, com as sensações e com as técnicas, se diferenciando mais da Psicanálise.
Na relação terapeuta-paciente, os dois se apresentam no mesmo nível. Às vezes, quando é propício, e com muito cuidado. Fala-se de casos que aconteceu com o profissional para poder ajudar aquela pessoa, mas ressaltou que deve ter muito cuidado, pois não é uma relação de amizade, apesar da proximidade, havendo sempre um respeito.
Afirma que o ser humano se constitui a partir daquilo que o marcou (passado), por isso trabalha em suas práticas com figuras (presente) para o indivíduo fazer uma retrospectiva de sua vida, para assim, ela poder detectar o problema de seu paciente. Não concorda com esses sites de terapias-online, pois acredita que não seja algo seguro e confiável.
Os profissionais da Gestalt se preocupam com o “por que” mais não enfatizam, porque é através do tempo real (presente) que consegue ter um entendimento global da situação, sendo assim o começo para a mudança. Comenta que para a Gestalt a relação do homem com o meio ambiente é bastante interligada.
A terapia aborda além do “aqui e agora” outros elementos, como, “o que é”, “para que” e “onde”, com o objetivo do paciente descrever e chegar até a essência do objeto, com tais elementos. Esses elementos usados nas práticas terapêuticas ajudam a evidenciar as dificuldades que o indivíduo encontra no seu ambiente. O ser humano é o ambiente e o ambiente é o ser humano. Ao trabalhar com a percepção analisa como ela ver o mundo, vendo o sentido que dá a esse ambiente, analisando todo o contexto, o ambiente.
Ao perguntar se as patologias eram consideradas como mecanismos de defesa para a Gestalt, ela diz que na verdade se trata de uma disfunção de contato. Foi a melhor forma que a pessoa encontrou para lidar com determinadas situações. Não seria um mecanismo porque esse termo é bem ligado a causa e efeito, máquina, e não é no que a Gestalt se baseia pra olhar o ser humano, mas são defesas sim, olhando de uma perspectiva da saúde, do caminho, da direção para a saúde, a forma como ele encontrou de manter a saúde e ter sua estruturação psíquica saudável. Se fosse de outra maneira ele teria, ou surtado, desencadeado alguma doença ou suicidado.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Expoentes Máximos

Considera-se que Von Ehrenfels, filósofo vienense de fins do séc XIX foi o precursor da psicologia da gestalt. O movimento gestáltico surgiu no período compreendido entre 1930 e 1940, e tem como expoentes máximos: Kurt Goldstein (1878-1965), Wolfgang Kôhler (1887-1967), Kurt Koffka (1886-1941) e Max Wertheimer (1880-1943). A Psicologia da gestalt afirma que as partes nunca podem proporcionar uma real compreensão do todo. O todo é diferente da soma das partes, mas a psicologia acadêmica da gestalt ocupou-se predominantemente com as forças externas.




Kurt Goldstein (1878-1965)

Wolfgang Kôhler (1887-1967)



Kurt Koffka (1886- 1941)
Max Wertheimer (1880-1943)

Gestalt-terapia



A Gestalt - terapia foi criada por Frederick (ou "Fritz") Perls e um pequeno grupo de psicoterapeutas, na década de 1950 e se enquadra na chamada Psicologia normal, que se diz da não patológica. Ela não se dá por simples observações de comportamentos (Rodrigues, 200).
A Gestalt-terapia é uma aplicação da psicologia da gestalt outras influências como a Fenomenologia, que é uma disciplina que faz o indivíduo tomar uma visão real dos fatos, relacionando a sua percepção com o que realmente é, e a psicanálise, sendo usadas algumas das suas perspectivas importantes. A psicologia da gestalt é uma teoria que embasa uma psicoterapia. Ela sozinha não é psicoterápica e basicamente se difere pelo contexto. Na terapia há um oscilamento da essência para a existência e a psicologia da gestalt apresenta uma postura reducionista onde o ser é único e total. (Yontef, 1998)
Para a Gestalt é fundamental uma relação mais próxima entre o profissional e o paciente que Perls chama de empatia rogeriana e apatia psicanalítica, porque é através dessa interação que o psicoterapeuta trabalha com insight, uma percepção imediata do real, que faz o indivíduo se atentar para a sua realidade, buscando o crescimento através disto, transformando suas experiências pessoais ao passo do seu reconhecimento interior (PHG, 1997). “A psicoterapia é um método não de correção, mas de crescimento.” (Perls, 1997, pág 51)
O terapeuta da Gestalt também enfatiza a comunicação não-verbal, fazendo uma leitura corporal, para através desta, observar a forma como o paciente se expressa , se desenvolve e como ele percebe o seu mundo, fazendo com que o próprio também se auto analise e perceba as suas atitudes e manipulações, bem como na relação como o ambiente analisar os efeitos que são causados e causa através do meio(Ribeiro, 1899).
Na Gestalt-terapia são utilizadas figuras que de acordo com a percepção de cada ser é observado uma figura e um fundo que se confundem, para a partir daí fazer uma relação como o corpo e a mente, mostrando que assim como não se diz o que é figura ou fundo, não se deve privilegiar o corpo ou a mente, pois a Gestalt se dá pela soma dessas partes de transformando em uma (Ribeiro, 1899). O awareness, que é uma percepção espontânea de uma figura sem a necessidade de uma leitura, é o principal objetivo da psicoterapia, e através de diversas formas se ter conhecimento da visão do paciente, descobrindo a sua leitura de mundo e ampliando a sua consciência sobre si mesmo, de como se comporta na tentativa de alcançar o seu próprio equilíbrio(Perls, 1997).
Tem-se a idéia se que é importante saber lidar consigo mesmo para encontrar a sua liberdade e encontrar em você mesmo o seu suporte, para não haver a necessidade de buscá-lo em outrem. A Gestalt-terapia objetiva o autoconhecimento para uma melhor relação com o meio e a tudo o que estão a sua volta (Perls, 1997) e para ela cada ser é composto por uma organização interna única que busca uma melhor adaptação com o meio e uma patologia pode ser considerada uma defesa do psiquismo humano (Rodrigues, 2000).

Fundamentos teóricos



De acordo com a Gestalt, a arte funda-se no principio da pregnância da forma. Ou seja, na formação de imagens, os fatores de equilíbrio, harmonia visual e clareza constituem para o ser humano uma necessidade e, por isso, considerados indispensáveis. (FILHO, 2008)
“Segundo a Gestalt, o que acontece no cérebro não é idêntico ao que acontece na rotina. A excitação cerebral não se dá em pontos isolados, mas por extensão. Não existe, na percepção da forma, um processo posterior de associação das várias sensações. A primeira sensação já é de forma, já é global e unificada.” (FILHO, 2008. P.19)
Para a Gestalt, não se vê partes isoladas em um objeto, mas as relações entre elas, isto é, uma parte depende da outra, valorizando também o seu fundo. Com isso, percebe-se que as partes são inseparáveis do todo e são mais que elas mesmas, fora deste todo. (FILHO, 2008)
A percepção depende, ao mesmo tempo, de fatores objetivos e fatores subjetivos, cuja importância relativa pode variar. (GINGER, 1995)
A Gestalt funda-se em algumas leis: (FILHO, 2008)
· Unidades: que são os elementos que configuram a forma.
· Segregação: que é o ato de separar, perceber ou identificar as unidades.
· Unificação: que é a coesão visual da forma em função do maior equilíbrio e harmonia da configuração formal do objeto.
· Fechamento: que apresenta características espaciais que dão a sensação de fechamento visual dos elementos constituintes da forma.
· Boa continuação: padrão visual originado por configurações que apresentam seqüências ou fluidez de formas.
· Semelhança e/ou proximidade: que são as leis que, sobretudo, se consubstanciam em padrões de unidades, pela sua própria e intrínseca organização e que também colaboram para a unificação formal.
· Pregnância da forma: que é a lei básica de percepção visual: as forças de organização da forma tendem a se dirigir tanto o quanto permitam as condições dadas, no sentido da harmonia, da ordem e do equilíbrio visual.